Quando eu era pequeno, meu acesso a jogos eletrônicos era completamente limitado. Eu tive vários daqueles mini games com “1 bilhão de jogos repetidos” e me divertia bastante. Era uma época sem internet — na verdade, sequer tínhamos computador. Não sabia muito sobre o que existia em termos de jogos. Morando numa região periférica e raramente indo ao centro da cidade, nem revistas tínhamos direito.

Mesmo assim, quando meus pais iam ao centro, muitas vezes traziam gibis da Turma da Mônica, e sou muito grato por isso. Eram extremamente divertidos. Mas esse não é o assunto aqui hoje.

🎮 O desejo por um console próprio

Conforme fui crescendo, comecei a conhecer videogames que nunca imaginei que existissem. Meu irmão pegava emprestado com amigos desde o Super Nintendo até, possivelmente, um Sega Saturn. Lembro de uma entrada para cartucho e espaço para CD — o que bate com o Saturn.

Perto de casa havia uma feirinha de quarta-feira. Um dia vi ele: o temido Polystation. Sabia que era inferior aos consoles reais, mas eu queria aquilo. O preço era R$ 50, e comecei a importunar meu pai. Até que um dia ele falou “vamos lá ver” — e comprou! Foi uma felicidade tremenda. Tenho esse Polystation guardado até hoje.

Anos depois, jogando Duck Hunt nele, meu pai passou pela porta, lembrou do momento e viu que eu tinha comprado aquele mesmo videogame. Infelizmente ele já faleceu, mas me deu coisas muito importantes, materiais e imateriais. Muito obrigado, pai.

🕹️ Chegada do Playstation e a revelação dos arcades

Depois, meu irmão comprou um Playstation 1 usado: modelo Slim com controles meio gastos e um estojo cheio de jogos piratas. O primeiro jogo que vi nele foi X-Men vs Street Fighter, que me impressionou demais.

Mais tarde, meu pai e meus irmãos (marceneiros) fizeram um serviço e receberam um computador como pagamento. Veio um gabinete branco e cinza, monitor de tubo com proteção de tela, impressora branca e capas plásticas. Achávamos que tínhamos internet por causa de atalhos salvos, mas tudo levava a erro.

Depois de comprar muitos CDs de jogos e softwares (inclusive o AutoCAD 2000, que meus irmãos aprenderam a usar sozinhos), conseguimos acessar a internet. Usando o discador Pop Discador e uma plaquinha de fax modem, descobrimos que aos sábados após as 14h podíamos conectar mais barato — e assim acessávamos a 56 kbps.


💾 Era de ouro do Baixaki e descoberta dos arcades

Com a internet chegou a festa! Baixávamos uma tonelada de tralhas: desde programas simples até demos de jogos de PC com no máximo 20 MB, que ficavam horas baixando.

Foi aí que descobri que aquele jogo de luta do PS1 era de uma placa arcade: a CPS2. E mais: mesmo com nosso PC fraco (talvez com menos de 512 MB de RAM), era possível emular os jogos com certo sucesso.

🔍 Evolução para CPS3

Fiquei obcecado pela CPS2, depois conheci a CPS3, que tinha uma emulação difícil. Essa placa tinha um sistema de criptografia onde a chave era mantida numa memória volátil alimentada por bateria. Se a bateria acabasse… perdia o jogo.

Uma inovação dela era o uso de CDs — mas só para carregar dados para as memórias persistentes. Ela funcionava com:

  1. CD com o jogo (opcional, versões NO-CD)
  2. Módulos de memória persistente, parecidas com RAM apesar de persistentes, com capacidade proporcional ao jogo
  3. Cartucho contendo a chave criptografada (alimentado por bateria)

CPS3 com leitor de CD, cartucho azul e módulos de memória


⚔️ Marvel vs Capcom e a misteriosa SEGA Naomi

Descobri Marvel vs Capcom, e pouco depois, sua sequência: o “2”. Só que esse rodava na placa SEGA Naomi, não na CPS2 ou CPS3.

A emulação era precária, e o nosso hardware ruim tornava tudo impossível. Na época era comum encontrar fliperamas piratas com Marvel vs Capcom 2 usando um Dreamcast dentro da máquina, e não emuladores.

O Dreamcast é quase um Naomi menor e doméstico, com arquitetura similar. Por isso, vários jogos saíram para ele com poucas modificações.

As máquinas piratas usavam métodos criativos pra cobrar:

  • Controle por tempo com corte de sinais
  • Interruptores escondidos no balcão
  • A famosa “lancheira Dreamcast”, que fazia a conexão com o arcade

Lancheira Dreamcast para arcades piratas

📡 Conhecendo a SEGA Naomi

A Naomi funcionava de forma similar à CPS3. Os jogos podiam ser carregados de três maneiras:

  • Por cartuchos (como os da CPS3)
  • Via GD-ROM (disco proprietário da SEGA)
  • Via rede Ethernet, método hoje totalmente desbloqueado

Esses métodos exigiam cartuchos especiais, com memória e conectores adequados. Ter uma Naomi é meu sonho de consumo!

Placa SEGA Naomi com cartucho de jogo


🧠 Meu progresso e atualidade

Hoje, mais velho e com minha própria grana, vivo aquele dilema clássico: muito jogo, pouco tempo. Mas ainda assim é incrível poder acessar tantos consoles, explorar coletâneas e brincar com emulação.

Atualmente tenho cerca de 10 consoles funcionando:

  • PlayStation 1, 2, 3, 4 e 5
  • Xbox One e Xbox Series S
  • Nintendo Wii U e Nintendo Switch
  • Dreamcast

Como comecei a jogar tarde e com grana curta, foquei nos mais acessíveis. Mas com o PS3 desbloqueado, por exemplo, posso emular vários consoles antigos.

E é isso — aqui fica meu relato sobre a aventura de conhecer e jogar ao longo da vida. 🎮🕹️